O Papel da Geologia em Obras de Engenharia

por Márcio Leão em 21/Jul/2020
O Papel da Geologia em Obras de Engenharia

A Geologia, como ciência, busca entender a história física de nosso planeta, a gênese dos materiais geológicos, bem como os fenômenos naturais acerca de longas Eras. A compreensão do meio físico é fundamental, já que no processo evolutivo da humanidade o desenvolvimento conjunto da infraestrutura é necessário.

Na história das grandes construções, a Pirâmide de Keops, construída entre 3000 a 2500 anos A.C (Antes de Cristo) na cidade do Cairo-Egito, incita a curiosidade. Com cerca de 150 m de altura e área da base de 50.000 m², ainda encontra-se de pé. Foram utilizados blocos de arenito para a construção do corpo. Seria um acerto construtivo ou a experiência? A passagem do empirismo para o conhecimento sistematizado teve ao longo do seu processo insucessos construtivos e acidentes em grandes obras, como por exemplo, as barragens de Malpasset (França) em 1959, Vajont (Itália) em 1963, dentre outros. Apesar da disponibilidade de técnicas de investigação, esses acidentes ainda ocorrem.

Há a necessidade de se compreender o comportamento de engenharia de materiais geológicos (solos, sedimentos e rochas). Solos e rochas não se comportam como materiais ideais e desta forma precisam ser tratados distintamente, considerando suas propriedades intrínsecas. O intemperismo, tão comum em países de clima tropical, como o Brasil, atua no comportamento de rochas e solos, em termos de resistência, deformação e permeabilidade, etc.

Como forma de subsidiar essas questões, destaca-se a Geologia de Engenharia, devido a sua grande interdisciplinaridade e estreito relacionamento com a Mecânica dos Solos, Mecânica das Rochas e Geotecnia. Os congressos da IAEG (International Society for Engineering Geology and the Environment), iniciado em 1964, incitaram a necessidade da investigação, estudo e solução de problemas de engenharia e meio ambiente, decorrentes da interação entre a Geologia e os trabalhos e atividades do homem, bem como à previsão e desenvolvimento de medidas preventivas ou reparados de acidentes geológicos, conforme extraído de seu estatuto.

É fundamental ter controle acerca de determinados condicionantes geológico-geotécnicos (coberturas de solos, rochas e rochas alteradas; matriz rochosa e maciço rochoso; influência de descontinuidades e feições geológicas e ação de processos intempéricos). Para a definição e porte de uma obra, é necessário investigar, por métodos diretos, semi-diretos e indiretos, de forma objetiva e racional, compreendendo a natureza geológica e prevenindo riscos construtivos e impactos ambientais.

Sob a perspectiva geológica faço algumas considerações:

  1. O profissional, geólogo ou não, deve ser excelente em sua área e ao menos regular nas outras.
  2. Algumas obras, principalmente as que remetem escavações são muito dinâmicas e desta forma, quando achar que conhece a sua obra, duvide!
  3. Não investigue pouco ou muito, investigue certo; o custo com remediações ao final da obra pode ser fatal.
  4. É mais fácil mudar o seu projeto do que a natureza geológica por isso, sempre tenha ao menos um plano B.
  5. Nunca espere encontrar materiais naturais homogêneos e de comportamento isotrópico.
  6. Lembre-se acima de tudo, a Geologia pode complicar a sua obra, mas uma solução barata pode ainda mais!

Lembrem-se! Conhecimento não compartilhado é conhecimento perdido!

Márcio Leão

É Pós-Doutor em Geotecnia pela UFV, Doutor em Geologia de Engenharia pela UFRJ, Doutorando em Geotecnia pela UERJ, Mestre em Geotecnia pela UERJ, Mestre em Geologia de Engenharia pela UFRJ, possui MBA em Gestão de Projetos pela USP e Bacharel em Geologia pela UFRJ. Geólogo com 13 anos de experiência em planejamento de obras de arte de engenharia civil, nacionais e internacionais. É Docente de Graduação e Pós-graduação. É Pesquisador e Consultor nas áreas de Geologia de Engenharia e Geotecnia, com ênfase em mecânica das rochas, mecânica dos solos, barragens, túneis, taludes e meio ambiente, investigações de campo e ensaios de laboratório e in situ, bem com instrumentação geotécnica. É Membro de Comissões Técnicas, de Corpo Editorial e Revisor Ad hoc de Periódicos nacionais e internacionais.

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