O drone e a síndrome do apertar botão

por Ricardo Scott Varella Malta em 10/Feb/2019
O drone e a síndrome do apertar botão

Um erro, na verdade um grande erro de quem inicia, ou até mesmo de quem contrata um serviço utilizando um drone para mapeamento ou construção de informação cartográfica ou topográfica é de que o serviço é fácil ou de que não necessita muito conhecimento, sendo assim, basta apertar o botão para que a mágica seja feita.

Isso em parte, é verdade, quando você lê as reportagens de vendedores, quando lê sobre empresas que queiram vender cursos e criar uma falsa expectativa de que o drone é um santo graal, que basta comprar um drone, saber usar um workflow (processamento em série de processamento, e pronto, o resultado está alí, bonito e pronto para impressionar o seu ciente.

A realidade não é bem essa

Quando se escolhe trabalhar ou oferecer um serviço de aerolevantamento, a primeira coisa que deve ter em mente é de que você está lidando com outras ciências, como a cartografia, topografia, geodésia, sistema de informação geográfica, sensoriamento remoto, informática, etc; e isso é importante para gerar produtos de qualidade ao seu cliente.

Um projeto de voo, inicialmente envolve uma logística de equipamentos como ripas de madeira, cal para a construção de pontos de controle, posicionamento e coleta de coordenadas com um receptor GNSS, seja ele DGPS ou RTK, deslocamento, acomodação, alimentação, além de pessoas que possam vir ajudar todo este processo.

Ao se deparar com a construção do plano de voo através de qualquer aplicativo voltado pra isso, em geral, faz-se parecer que seja fácil, e realmente o é, pois basta clicar sobre a área desejada que as linhas de voo são construídas, fazendo com que o piloto sinta que tudo seja fácil, mas percebe que após a coleta os dados não estão conforme ele desejava, imagens ruins, com pouco foco, com grande quantidade de buracos e percebe que um conhecimento sobre meteorologia, direção de vento, índice kappa, comportamento de aves, assim como métodos de fotogrametria ajuda na decisão de como orientar melhor o seu voo e assim possuir melhor desempenho na bateria, da mesma forma que aumentar as chances de obter melhores resultados.

Da mesma forma que nos foi passado, ou que compramos, o processamento da dados de fotogrametria não é moleza como se diz. Os softwares disponíveis no mercado nos faz pensar assim, por causa dos chamados workflows, que são um passo a passo para processar as fotos coletados pelo drone, uma forma de receita de bolo. Esta receita não inclui inserção de pontos de controle automático, o que sem eles, o seu drone estará gerando resultados de precisão igual ao gps de navegação, sendo assim com erros de posicionamento acima de 3 metros em x,y e z; não inclui remoção automática e detalhada de árvores, edificações, veículos, máquinas agrícolas, maquinário de mineração, pessoas, muros e qualquer objeto que esteja acima do nível real do solo, impossibilitando dessa forma, gerar o modelo digital de terreno, ou MDT.

Esses MDT´s são os responsáveis pela geração das curvas de nível, sem o MDT, em geral, o workflow somente gera os Modelos digitais de elevação, ou MDE e caso você gere curvas de níveis sobre os MDE´s será incluído todos esses objetos citados anteriormente, utilizando assim a altura desses elementos na construção da curva de nível. Inicia assim, um processo de limpeza dos dados, a fim de obter resultados reais e confiáveis e para este processo não existe forma automática de trabalho, demanda um bom tempo e uma pessoa que fique dedicada a este serviço, além de computador adequado para este fim.

Um outro detalhe, não menos importante é que em geral, os workflows ao gerarem as curvas de nível, geram utilizando dados que foram coletados com altíssima resolução espacial, fazendo com que mesmo limpando os dados e gerando o mdt, seja necessário, suavizar as tais curvas, pois dependendo da equidistância escolhida, qualquer elevação do solo irá trazer uma curva de nível extremamente detalhada, e isso gera curvas com um formato vibratório e não suave como todos nós conhecemos.

Curva de nível vibratória e curva de nível suavizada

Essas técnicas como tantas outras, nos faz perceber que aerofotogrametria está longe de ser uma técnica de apertar botão, pode até vir a ser com a evolução tecnológica, mas por enquanto, ainda é necessário um bom conhecimento sobre o que fazer, como fazer e como gerar resultados precisos e de qualidade.

Ricardo Scott Varella Malta

Sócio proprietário da AeroGIS - drones e soluções em geoprocessamento, Geógrafo, especialista em geoprocessamento, piloto de drone classe 3. Possui mais de 10 anos de experiência em geoprocessamento, tendo passado por empresas de grande porte como analista de geoprocessamento na CEMIG, gerente de geoprocessamento na prefeitura de Belo Horizonte, analista de geoprocessamento no Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, com vasta experiência em mapeamento aéreo por drone pela AeroGIS, além de ter sido instrutor de Arcgis, Mapinfo, Spring, Microstation, introdução à cartografia e geoprocessamento e mapeamento por drones, tanto presencial, quanto à distância.

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