Introdução a Espeleologia: O Carste e o Patrimônio Espeleológico

por Mariana Barbosa Timo em 22/Apr/2019
Introdução a Espeleologia: O Carste e o Patrimônio Espeleológico

As rochas carbonáticas se destacam na superfície da Terra devido às suas espetaculares paisagens, onde desenvolve-se um tipo especial de relevo denominado “carste”. Este relevo apresenta uma morfologia específica, caracterizada pela presença de feições características como dolinas, afloramentos, vales cegos, surgências e sumidouros, cavernas, lapas e abrigos, entre outras.

O relevo cárstico é associado, principalmente, às rochas carbonáticas, que são rochas cujos minerais predominantes são os carbonatos (dolomita, aragonita e, principalmente, a calcita). A origem destas rochas pode ser sedimentar (Calcários), metamórfica (Mármores) ou ígnea (Carbonatitos).

Afloramento calcário na região de Corumbá, Pains (MG). Foto: Mariana Barbosa Timo, 2007.

Neste tipo de relevo duas ciências são amplamente estudadas: a carstologia e a espeleologia. A carstologia abrange aspectos envolvendo as feições cársticas e suas relações com os processos superficiais e subterrâneos da gênese do relevo, enquanto a espeleologia é totalmente restrita ao ambiente subterrâneo.

O Patrimônio Espeleológico é constituído pelo conjunto de ocorrências geológicas que criam formações especiais, tais como vales fechados, dolinas, paredões verticais, cânions, sumidouros, drenagens subterrâneas, cavernas, abismos, furnas, tocas, grutas, lapas e abrigos sob rochas, que são considerados bens da União. Este patrimônio estrutura ecossistemas de intensa complexidade e de grande fragilidade ambiental. Apresenta significativo endemismo faunístico, beleza cênica, multiplicidade de feições morfológicas, deposições minerais e estratégicos reservatórios de água, fundamentais para a recarga de aquíferos. As cavernas apresentam contato reduzido com o ambiente externo, pouca variação de temperatura e umidade, fauna específica, além de escuridão e silêncio absoluto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Santuário em Bom Jesus da Lapa (BA). Foto: Mariana Barbosa Timo, 2015.

No interior das cavernas podem ser observadas feições que possibilitam o entendimento do processo de formação geológica regional e vestígios arqueológicos e paleontológicos importantes para o entendimento da nossa pré-história. Trata-se de um ambiente frágil de recarga de aquífero que também é comumente utilizado para manifestações culturais e religiosas. Além disso, a biodiversidade deste ecossistema é importante e pouco estudada, principalmente no tocante às espécies troglóbias (específicas do ambiente cavernícola).

As intervenções no Patrimônio Espeleológico afetam significativamente todo o ecossistema subterrâneo. Os principais impactos antrópicos neste ambiente são desencadeados pelas atividades minerárias, ocupação urbana e/ou rural, disposição de resíduos sólidos inadequada, redes de esgoto, cemitérios, postos de combustíveis, abertura de estradas/obras de engenharia, agricultura, pecuária, desmatamento, captação de água sem planejamento, turismo, vandalismo, entre outros. Estas atividades desenvolvidas de forma desorganizada e predatória, sem critérios técnicos adequados e sem planejamento, acabam deflagrando processos que induzem a acidentes geológicos, como subsidências e colapsos de solo e rocha, e a degradação ambiental, podendo inclusive, causar a poluição de aquiferos. 

O entendimento da importância deste ambiente durante o processo de licenciamento ambiental é fundamental e pode minimizar consideravelmente os impactos ambientais negativos previstos em cada fase dos empreendimentos sobre o carste e as cavernas. Além disso, permitirá o prognóstico da qualidade ambiental na área de influência direta e indireta do empreendimento, sendo estratégico para a preservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro.

Lapa do Caboclo, Januária (MG). Foto: Mariana Barbosa Timo, 2012.

 Isopoda troglomórfico encontrado em cavernas. Foto: Arquivo Spelayon Consultoria, 2016.

Mariana Barbosa Timo

Engenheira Ambiental pela Universidade Federal de Ouro Preto (2005), Mestre em Geografia pela PUC Minas (2014) e atualmente cursa - como bolsista CAPES - o Doutorado em Geografia no Programa de Pós-Graduação em Geografia da PUC Minas e em Carstologia na Universidade de Nova Gorica, Eslovênia. No campo profissional, é diretora da Spelayon Consultoria – EPP e tem experiência na área das Geociências com ênfase nos seguintes temas em Espeleologia: Prospecção Espeleológica, Espeleotopografia, Geomorfologia Cárstica e Análise de Relevância de Cavidades Naturais Subterrâneas.

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