A CPRM e a importância do conhecimento geológico

por Alexandre Vidigal em 16/Oct/2020
A CPRM e a importância do conhecimento geológico

Por Alexandre Vidigal

 

O desafio do SGB para o futuro será atrelar a geologia básica expressa em mapas de várias escalas com a ciência, tecnologia e inovação. Essa é a razão da prioridade dada nos últimos três anos para a reestruturação deste setor no SGB. A parceria em desenvolvimento entre a Petrobras, a ANP e a CPRM é absolutamente fundamental para prover o SGB de uma infraestrutura laboratorial adequada para o desenvolvimento de pesquisas tanto no setor de óleo e gás como metais. Com estes laboratórios conseguiremos dar o salto exigido pelo setor produtivo e a sociedade. O SGB deve assumir o protagonismo das geociências do País, participando ativamente do setor produtivo.  

No plano social a importância do conhecimento geológico se manifesta ainda mais evidente. Questões como recursos hídricos, áreas sensíveis a desastres naturais, erosão costeira, paleoclima, aquecimento global, energia limpa minerais estratégicos para um mundo tecnológico e uma indústria em total transformação, são tratadas invariavelmente no contexto do conhecimento geológico básico. Nas próximas décadas teremos que apresentar soluções para mantermos a fertilidade dos solos, o provimento de água potável, novos minerais para viabilizar carros elétricos, energia solar, eólica e principalmente baterias para uma infinidade de equipamentos. É a geologia básica que indica onde podemos encontrar os elementos e minerais capazes de viabilizar a nossa vida neste planeta em constante transformação, quase sempre hostil a nossa maneira de viver. Precisaremos cada vez mais de mapas confiáveis de estudo integrados de geologia e biologia viabilizando a exploração dos oceanos, fronteira inevitável para a sociedade futura. Não adianta imaginarmos que poderemos recorrer aos outros planetas antes de viabilizarmos de forma sustentável os recursos minerais e biológicos presentes nos oceanos. Para achá-los precisamos da geologia. 

Mineração é uma atividade econômica peculiar, pois o ativo precisa ser descoberto. Para isso, são necessários anos de exploração, pesquisa e nem sempre o capital investido traz retorno para o investidor. Ao contrário do que ideário popular imagina essa atividade econômica possui baixa atratividade sendo marcada pelo altíssimo risco e longos prazos para maturação. A única maneira de acelerar o fluxo de descoberta é através do conhecimento geológico, da disponibilização de levantamentos prospectivos, novas tecnologias e principalmente de mapas geológicos factuais em escalas adequadas. Tais atividades são desenvolvidas invariavelmente pelos serviços geológicos nacionais. Assim, o futuro da mineração brasileira dependerá da descoberta em novas áreas, assim como das descobertas próxima das minas já existentes, visando a recuperação das reservas diminuídas dia a dia com a produção. Se não houver novas descobertas, o que acontecerá com as empresas Vale e Petrobras com a exaustão do minério de ferro de Carajás e do petróleo do Pré-sal?

O Brasil precisa melhorar seu conhecimento geológico visando manter a mineração como um importante segmento da sua economia como é hoje. E a geração desse conhecimento geológico básico terá que ocorrer tanto em áreas de baixa atividade exploratória (novas fronteiras), atraindo novos investidores, assim como em áreas de alta produção mineral (distritos mineiros). O objetivo é único, o SGB terá que produzir mapas geológicos, fazer levantamentos geofísicos e geoquímicos em diferentes escalas com diferentes métodos. A necessidade de se conhecer cada vez em profundidade é ilustrada por uma observação factual e preocupante - os depósitos minerais estão cada vez mais difíceis de serem achados, mais caros e mais profundos. O nível de conhecimento geológico básico torna-se um diferencial na hora do investidor escolher o país onde aplicará seus recursos na procura de novos depósitos minerais. É com isso em mente que devemos pensar na importância das atividades futuras do SGB que inapelavelmente terá que focar na produção de mapas geológicos confiáveis.

 

  

Alexandre Vidigal

Jurista e gestor público, é Secretário Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), Presidente do Conselho Fiscal da Pré-Sal Petróleo-PPSA, Presidente do Conselho de Administração da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM e Coordenador- Geral do Grupo de Trabalho-15 (Mineração), do Mercosul.

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