O que considerar ao desenvolver um programa de QAQC para geotecnia.

por Márcio Leão em 28/Oct/2021
O que considerar ao desenvolver um programa de QAQC para geotecnia.

Em todo projeto, as discussões começam entre o cliente (proprietário / desenvolvedor) e a projetista /consultores técnicos. A projetista/consultor analisa os dados e relatórios existentes relacionados ao local e de áreas próximas. Um plano de trabalho específico do local é preparado.

Nesta fase, potenciais riscos geotécnicos, geológicos e /ou geofísicos são identificados (por exemplo, terremotos, inundações, deslizamentos de terra, falhas ativas).A equipe é alocada, uma estimativa de tempo e custo é feita e a proposta é enviada ao cliente.

Durante a investigação é onde as deficiências mais graves no projeto ocorrem. A garantia de qualidade e o controle de qualidade, quando não implantadas, torna o projeto crítico. Dentre esses pontos temos, por exemplo, o uso de pessoal menos qualificado sendo designado para conduzir o trabalho de campo e ensaios de laboratório.

Essas pessoas são as menos qualificadas, menos experientes e menos bem informadas para fazer o trabalho adequadamente. Um membro sênior da equipe pode verificar o trabalho realizado pela equipe, mas não conduz investigações detalhadas com o objetivo de identificar deficiências no trabalho da equipe de nível inferior.

 

Podemos elencar algumas situações:

 

O geólogo da equipe não identifica uma fina camada de argila que é um plano potencial de de baixa resistência ao cisalhamento, não identifica uma falha geológica, ou famílias de fraturas como caminhos de fluxo potenciais para água.

O geofísico da equipe escolhe instrumentos geofísicos de superfície ou de poço que não são apropriados porque os métodos não têm resolução suficiente, penetração em profundidade, não medem as propriedades alvo. Ele projeta orientações de linha de levantamento inadequadas ou insuficientes ou espaçamento de estação e não usa métodos complementares para reduzir a ambiguidade (ou aumentar a confiabilidade) dos métodos. Os dados não são revisados no campo para identificar 'busts' resultantes de causas instrumentais ou fontes externas (por exemplo, linhas de energia elétrica); esses erros são realizados nas análises e interpretações.

O engenheiro da equipe não realiza os ensaios de campo de maneira adequada. Os ensaioss de laboratório realizados podem não ser apropriados; as amostras podem não ser representativas ou, mais importante, podem não ser o tipo de rocha com maior probabilidade de falhar (ou seja, a 'rocha mais fraca'). Resultados anômalos são descartados sem avaliação do motivo da anomalia, o equipamento pode não ser calibrado de acordo com os padrões e os resultados do teste podem apresentar distorção, etc.

Os valores medidos são relatados como sendo exatos ou precisos, explícita ou implicitamente. Esses relatórios são incorretos. A menos que o verdadeiro valor seja conhecido, os termos “exato” e “preciso” não têm sentido; nunca sabemos o verdadeiro valor.

 

Os dados de campo e de laboratório são considerados válidos. Mapas e seções transversais são preparadas, dados de ensaios são interpretados e cálculos de estabilidade são executados. A informação é avaliada, interpretada, integrada e as conclusões são tiradas. Um relatório é preparado e enviado ao cliente.

 Após a Investigação, tanto o cliente quanto o consultor têm grande interesse no relatório e no projeto. Geralmente, as discussões ocorrem entre o consultor e o cliente para revisar a essência do relatório antes das conclusões finais. O cliente “recomendou” que mudanças fossem feitas no relatório para torná-lo “mais favorável” ao projeto. Esse ponto também é crítico.

Os revisores podem ou não identificar deficiências no relatório (por exemplo, dados incorretos, cálculos, equipamentos, ensaios geotécnicos erroneamente executados e interpretações incorretas). Se, na opinião do revisor, o relatório for aceitável, o relatório será aprovado. Se forem identificadas deficiências, o revisor pode pedir esclarecimentos, fazer correções, realizar ensaios adicionais, etc. Nessa fase, o consultor discutirá a solicitação com o cliente para decidir o próximo passo. O cliente pode não querer gastar mais dinheiro e tempo em trabalho adicional.

O cliente pode solicitar ao consultor que “modifique” o relatório para que seja aprovado. O consultor pode ou não atender a esse pedido. O consultor pode negar a existência de erros. O consultor pode ou não conduzir investigações adicionais. O consultor pode reescrever o relatório de forma que os erros sejam minimizados, pareçam insignificantes e afirme que não são um obstáculo para um produto seguro. Um relatório revisado é submetido ao órgão fiscalizador, podendo ser aprovado.

A aceitação do relatório pelo órgão fiscalizador permite que uma licença seja concedida. A classificação começa no local. Se um relatório abaixo do padrão do consultor for aceito, a agência de licenciamento se torna uma parte conhecedora dos erros e se torna uma parte do problema.

Em qualquer etapa do processo, podem ser identificadas condições geotécnicas ou geológicas que não eram esperadas ou podem ser diferentes daquelas descritas no relatório; essas condições podem ser desfavoráveis ao projeto. As condições adversas podem não ser identificadas. Se não forem identificadas, não podem ser corrigidas.

Márcio Leão

É Pós-Doutor em Geotecnia pela UFV, Doutor em Geologia de Engenharia pela UFRJ, Doutorando em Geotecnia pela UERJ, Mestre em Geotecnia pela UERJ, Mestre em Geologia de Engenharia pela UFRJ, possui MBA em Gestão de Projetos pela USP e Bacharel em Geologia pela UFRJ. Geólogo com 13 anos de experiência em planejamento de obras de arte de engenharia civil, nacionais e internacionais. É Docente de Graduação e Pós-graduação. É Pesquisador e Consultor nas áreas de Geologia de Engenharia e Geotecnia, com ênfase em mecânica das rochas, mecânica dos solos, barragens, túneis, taludes e meio ambiente, investigações de campo e ensaios de laboratório e in situ, bem com instrumentação geotécnica. É Membro de Comissões Técnicas, de Corpo Editorial e Revisor Ad hoc de Periódicos nacionais e internacionais.

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