Análise tátil visual...Qual é o nível de percepção individual do profissional por meio desta técnica?

por Márcio Leão em 26/Jan/2021
Análise tátil visual...Qual é o nível de percepção individual do profissional por meio desta técnica?

Sabemos que os projetos de engenharia são dependentes de muitos parâmetros geotécnicos oriundos dos materiais geológicos naturais. Para isso, muitos ensaios em campo e laboratório, além de investigações geotécnicas, são indicados para essa finalidade. De forma preliminar, uma descrição com base na impressão que temos sobre determinado solo com base em observações visuais e táteis (tátil-visual) pode nortear nossa campanha de estudos. Assim, podemos chegar a uma simples e direta conclusão. Se essas informações forem obtidas erradamente, o reflexo nos projetos de engenharia pode ser fatal, levando a gastos desnecessários durante a execução da obra, remediação ou até mesmo um grande problema de engenharia que pode inviabilizar o empreendimento.

A descrição tátil-visual é um método de descrição executado por muitos profissionais ao longo dos anos. Apesar de ter alguns critérios para que possamos identificar determinada característica de um solo, será que dois profissionais seriam capazes de descrever um solo igualmente ou o método é um tanto subjetivo?

A cor pode identificar solos de uma mesma origem geológica e também indicar o teor de umidade (comparado a um solo totalmente seco), além da presença de matéria orgânica. A definição da cor pode ser obtida pela Carta de Munsell, de forma padronizada e por meio de comparação.

O odor é uma importante característica na localização de solos orgânicos (indícios de putrefação) ou até indicar a presença de produtos químicos. Se não fosse a presença de produtos químicos poderíamos recorrer inclusive ao “sabor” do solo, você sabia? Solos com sabor mais azedo remetem à acidez e o sabor semelhante a sabão remete a solos mais básicos.

A umidade é outra característica importante para avaliação do estado de plasticidade de um solo e possui estreita relação com o teor de umidade. Ela pode ser definida pela relação percentual entre a massa de água contida no solo natural pela massa do solo seco.

Podemos ainda avaliar a consistência do solo, muito indicada para solos finos e não indicada àqueles com significantes quantidades de grãos grosseiros, por testes feitos pela compressão do polegar. Assim, você pode avaliar como um torrão de solo pode ser facilmente desagregado e comparar essa resposta para dois tipos de solo. Por exemplo, um solo siltoso quase seco é mais facilmente desagregável que um solo argiloso sob mesmas condições.

A avaliação da desagregação pode ser uma primeira estimativa da resistência de um solo. Se um torrão de solo seco oferecer uma resistência média ao ser comprimido pelos dedos, esse solo provavelmente será argiloso, como vimos. Se analisarmos essa informação em conjunto com a Carta de Plasticidade de Casagrande (Veja o artigo "Como a consistência e a atividade das argilas afetam meus projetos?" no link: https://www.linkedin.com/pulse/como-consist%25C3%25AAncia-e-atividade-das-argilas-afetam-meus-marcio-le%25C3%25A3o/?trackingId=HpvkMEtCTxmvxFuxnHqz9g%3D%3D), ele provavelmente estará abaixo da linha A. Dessa forma, quanto maior a resistência dos torrões secos, mais alta estará sua posição acima da linha A. Faça o teste!

Outra característica importante que podemos obter da análise tátil-visual é o grau de cimentação, resultado da ação de processos geológicos. Quando um solo desagrega por uma leve pressão dos dedos ou manuseio, dizemos que ele possui fraca cimentação e, quando não desagrega, dizemos que o possui forte cimentação. Ainda podemos mencionar características texturais relacionadas à forma (plana, alongada ou plano-alongada) e a angulosidade (desde angular, em que grão possui muitas arestas até quando é classificado como arredondado, sem arestas). Todas essas características podem ser obtidas em exames rápidos pela observação dos grãos, você sabia?

Podemos ainda fazer uma rápida avaliação da granulometria de um solo deixando-o secar determinada quantidade ao ar. Espalhando na mão ou em um papel branco utilizamos uma lupa para identificar os grãos. Se você conseguir identificar a maior quantidade dos grãos significa que ele é grosso, do contrário, é fino. Dos grãos presentes, se a maioria for maior que 5 mm, podemos defini-lo como pedregulhoso, do contrário ele será arenoso. Bem fácil, não acha? Solos ainda podem apresentar estruturas que podem fornecer informações importantes sobre seu comportamento geotécnico, como no caso dos solos residuais jovens, por exemplo.

Os solos grosseiros são classificados com base em sua compacidade (capacidade de compactação de um solo). Em solos finos, a característica mais importante é a consistência.

Imagine um torrão de solo retirado de um local com a preservação de suas características (solo indeformado). Se conseguirmos amassá-lo com os dedos, sua consistência pode ser mole, rija ou dura, quando não for possível. Se avaliarmos a consistência desse solo amassado teremos uma ideia de sua sensitividade (relacionada à fração argila). Portanto, um solo amolgado (deformado) com sensibilidade pode ser descrito como um solo rijo, quando indeformado, e muito mole a pegajoso, quando amassado com os dedos.

Fonte: LEÃO, M. F.. Fundamentos em Mecânica dos Solos. 1. ed. Campinas: Kroton, 2018. v. 1. 250p .

Márcio Leão

É Pós-Doutor em Geotecnia pela UFV, Doutor em Geologia de Engenharia pela UFRJ, Doutorando em Geotecnia pela UERJ, Mestre em Geotecnia pela UERJ, Mestre em Geologia de Engenharia pela UFRJ, possui MBA em Gestão de Projetos pela USP e Bacharel em Geologia pela UFRJ. Geólogo com 13 anos de experiência em planejamento de obras de arte de engenharia civil, nacionais e internacionais. É Docente de Graduação e Pós-graduação. É Pesquisador e Consultor nas áreas de Geologia de Engenharia e Geotecnia, com ênfase em mecânica das rochas, mecânica dos solos, barragens, túneis, taludes e meio ambiente, investigações de campo e ensaios de laboratório e in situ, bem com instrumentação geotécnica. É Membro de Comissões Técnicas, de Corpo Editorial e Revisor Ad hoc de Periódicos nacionais e internacionais.

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