O que aprendi sendo mulher na Engenharia

por Instituto Minere em 08/Mar/2018
O que aprendi sendo mulher na Engenharia

Rafaela Baldi

Talvez este seja um dos temas mais polêmicos das áreas de exatas mas, também, um dos mais fáceis de serem modelados e resolvidos, quando se avalia a questão cultural acerca dessa fala.

Ser mulher na Engenharia é como ser mulher em qualquer outra profissão e, sendo mulher de engenharia, os requisitos básicos para se tornar uma profissional bem sucedida, precisam ser compreendidos independente das questões associadas ao gênero.

Segundo o CONFEA, em 2015, as mulheres respondiam por 30,3% das matrículas em cursos de engenharia civil e 26,9% dos profissionais no mercado, sendo que estes valores cresceram substancialmente, mesmo que em taxas lentas, em relação ao levantamento de 2005. Ano a ano, as mulheres vem quebrando o mito de que exatas não é “coisa de menina”.

Particularmente, acredito que a discussão em torno das exatas vai além das questões em relação ao ser masculino e feminino. A maioria das pessoas não conhece o curso de Engenharia e acreditam que o engenheiro é aquele que constrói prédios e casas, o que talvez torna a profissão pouco aceita pelas mulheres. Essa percepção, condiciona a uma relação de que o trabalho é puramente braçal. Ledo engano!

A Engenharia é um ato de pensar, estudar, projetar, executar e criar soluções para um determinado tipo de problema. Em diversas áreas: estruturas, geotecnia, ambiental, materiais de construção, hidrologia, hidráulica, transportes, sanitária, ambiental, dentre outras. Quanto melhores alunos, melhores profissionais e, consequentemente, melhores na arte do engenhar”. Desta forma, não é o gênero que irá definir o melhor ente profissional, mas sim, a capacidade de de saber articular todos os desafios que são impostos pela engenharia.

Nós projetamos, construímos, monitoramos, gerenciamos e ESTUDAMOS! E com a facilidade de poder fazer tudo isso em cima de um salto alto ou de botinhas de segurança, com as unhas pintadas ou toda quebrada por conta da agressividade de certos materiais, maquiada ou suada, de cabelo escovado ou preso e escondido dentro de um capacete, de roupas largas ou justas ou, ainda, descombinadas! Esses rótulos estéticos não nos definem enquanto profissional, uma vez que ser Engenheira vai além de qualquer padrão.

O que nos tornamos é reflexo das experiências que vivemos. É, nesse sentido, que devemos encarar os desafios da profissão como uma grande oportunidade de aprendizado e crescimento. As diferenças de gênero sempre irão existir, já que homens são biologicamente diferentes de mulheres. Entretanto, essas diferenças não devem ser balisadoras para a atribuição de competências.

A Engenharia, assim como qualquer outra profissão, é conduzida pelas habilidades e competências, que são qualificações que independem de sexo, raça, crença, situação social, dentre outros. Nos estudos iniciais de engenharia, aprendemos que o princípio básico é o equilíbrio dos corpos, dos materiais, das reações, tensões e deformações. E é esse equilíbrio que deve ser o foco profissional, quando avaliamos os casos levando em consideração todas as variáveis e não somente às atribuições de competência por rótulos.

A resistência das empresas é cultural, sendo o preconceito um fator determinante para o crescimento lento da inserção das mulheres no mercado. Além disso, a demanda social feminina também é considerada um obstáculo, já que de nós é esperado que se cumpra o papel de mãe, dona-de-casa e profissional, simultaneamente.

Nesses quase 15 anos de Engenharia, já vivi e passei por tantas histórias.... E todas elas foram fundamentais para me tornar a profissional e ser humano que sou. Cada um é responsável pelas suas escolhas e, consequentemente, pelas responsabilidades de cada escolha. Sendo assim, a cada profissional será atribuída uma competência, reflexo de todas as experiências vivenciadas e estudos realizados.

Ainda acho curioso quando alguns alunos duvidam que eu dirijo fora de estrada. Ou quando alunas relatam os receios que sentem de ir à campo e só encontrar homens, mesmo tendo o desejo de vivencia a Engenharia no seu estado mais natural. Curioso chegar numa reunião e ainda perceber olhares inquietos de quem não sabe lidar com o fato de ter que conversar de igual pra igual, ou de se assustarem quando eu, Diretora da empresa, sou uma mulher. Ainda é estranho ser minoria nos congressos e eventos da área. Mas, quem disse que seria fácil?

A GoldieBlox é uma linha de brinquedos internacional, criada pela engenheira Debbie Sterling. Um dos brinquedos da empresa foi anunciado através de um vídeo com uma criança vestindo uma camisa com os dizeres “Mais do que uma princesa”. O brinquedo é destinado a crianças de cinco a nove anos, e consiste em um livro de histórias e um kit de construção, onde a heroína Goldie e sua turma, precisam resolver uma série de desafios de engenharia e construir algo para ajudar seus amigos. Esse lançamento foi motivado por uma pesquisa da criadora da linha, onde foi identificado que meninos gostam apenas de construir, enquanto meninas precisam saber os motivos pelos quais estão construindo.

Talvez seja uma grande chance de começar a despertar o interesse pela ciência, que vem se perdendo ao longo dos anos, independente do gênero a que se relaciona a grandes descobertas e pesquisas.

E o que aprendi e aprendo sendo uma mulher na Engenharia?

Que a palavra Engenharia é um substantivo feminino!

 

 

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